Rodrigo Capel de Souza
8 min readSep 22, 2020

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Traduções de poemas e histórias curtas

ORIGINAL

Old man from Peru

BY SAMUEL STOKES

There was an old man from Peru

Who dreamt he was eating his shoe.

He awoke in a fright

In the middle of the night

And found it was perfectly true.

TRADUÇÃO

Um velho argentino

POR SAMUEL STOKES

Um velho argentino esganado

Sonhou que comia um calçado

Um susto levou

Uma noite acordou

Mastigando com gosto o solado.

Nesta tradução do Limerick “There was an old man from Peru” escolhi priorizar a sonoridade, e a métrica para preservar o gênero.

Tendo a minha prioridade em mente, tive que fazer diversos sacrifícios e mudanças pensando na métrica do original, como traduzir “Old man from Peru”(Um homem velho do Peru) do original, como “um velho argentino esganado”, perdendo assim a informação do país de origem do velho, essa escolha foi feita pois se eu mantivesse “Peru” não conseguiria manter a métrica do original, e o país não é de fato uma informação importante para entender o Limerick, ou não traduzir “middle”(meio) de “In the middle of the night”(no MEIO da noite) da penultima linha do original, pois saber que o velho acordou no meio da noite não é uma informação importante para entender o Limerick, e traduzir essa palavra tornaria mais difícil manter o esquema métrico do original.

Também levei em conta o entendimento do leitor, e tive que modificar” And found it was perfectly true.”(e percebeu que era verdade) do último verso do original como “mastigando com gosto o solado” para que ficasse claro ao leitor a mensagem que o autor quis passar. Poderia ter traduzido como “seu sonho se fez fundado”, mas assim seria difícil de entender a mensagem de que o velho estaria comendo o solado.Na última linha poderia ter colocado “calçado” novamente, mas como no original a segunda linha rima com a última, eu não poderia colocar a palavra e rimar “calçado” com “calçado”, então tive que mudar para “solado”.

ORIGINAL

Insomniac

BY MAYA ANGELOU

There are some nights when

sleep plays coy,

aloof and disdainful.

And all the wiles

that I employ to win

its service to my side

are useless as wounded pride,

and much more painful

TRADUÇÃO

Insone

POR MAYA ANGELOU

Há noites que

o sono se faz de tímido

distante e desdenhoso

E todos os blefes

que uso para ter

seu serviço querido

são tão inúteis quanto orgulho ferido

e muito mais dolorosos

Nesta tradução do poema “Insomnia” de Maya Angelou, escolhi priorizar a concisão com texto original e manter sua fluidez e esquema de rima.

Para fazer isso, tive que mudar o sentido de algumas partes e omitir uma palavra.

Como por exemplo : na frase “ plays coy” (faz tipinho) do original e traduzir como “se faz de tímido”, que infelizmente não é exatamente o mesmo sentido que a autora do quis passar.

Ou na palavra “wiles”(artimanhas), que no original a autora utiliza no sentido de uma cilada/ação astuta, tive que traduzir como “blefes”, que em minha opinião muda um pouco da impressão que o poema original passa, mas que foi necessário para evitar causar estranheza no leitor.

Levando em conta esquema de rimas do original, tive que traduzir “its service to my side”(seu serviço para o meu lado) como “seu serviço querido” para rimar com “ferido” da linha seguinte, mudando assim um pouco do sentido que a autora quis passar, e por fim, pensando na fluidez, não traduzi “some” de “there are some nights” da primeira linha, mas felizmente consegui manter o mesmo sentido.

ORIGINAL

Hope

BY EMILY DICKINSON

‘Hope’ is the thing with feathers —

That perches in the soul —

And sings the tune without the words —

And never stops — at all —

And sweetest — in the Gale — is heard —

And sore must be the storm —

That could abash the little Bird

That kept so many warm —

I’ve heard it in the chilliest land —

And on the strangest Sea —

Yet, never, in Extremity,

It asked a crumb — of Me.

TRADUÇÃO

POR EMILY DICKINSON

A fé é algo com plumas

Que pousa sobre a alma

Canta sua canção sem letra

E nunca, jamais para

e mais doce no vendaval,

E forte é a tempestade

Que acanhe o pequeno pardal

Que traz felicidade

Ouvi na terra mais fria

No mar mais inusitado

Mesmo assim, em nenhum dia

Um petisco me foi requisitado

Nesta tradução do poema “ Hope”, procurei manter o contraste de estrofes do poema original e o esquema de rimas, sempre levando em conta também a sonoridade.

Tive que fazer alguns sacrifícios de sentido na tradução do poema para à cima de tudo manter as rimas do original

Por exemplo traduzir “little bird”(pequeno pássaro) como “pequeno pardal” para manter a rima com “vendaval”, assim classificando a ave como uma certa espécie de pássaro, coisa não feita no original. Tive também que traduzir “It asked a crumb- of me”(pediu migalhas a mim) como “um petisco me foi requisitado”, para que “requisitado” rimasse com “inusitado” de duas linhas à cima, mantendo assim a rima, mas infelizmente causando certa estranheza ao leitor, já que a palavra “requisitado” causa uma certa quebra no ritmo do poema.

ORIGINAL

THE SENTRY (1954)

BY FREDRIC BROWN

He was wet and hungry and cold and he was fifty thousand light years from home. He was on a damned planet he did not know. War never changes. After thousands of years it was still very easy for the pilots, high up in their shining spaceships with all their sophisticated weapons. After thousands of years it was still the ordinary soldier’s task, the infantryman, to fight the enemy and die in battle. The aliens were there too. The aliens, the only other intelligent race in the galaxy, cruel, horrible monsters.

The first contact with the aliens took place in the centre of the galaxy, and war broke out immediately. They started to shoot; they did not try to negotiate or to make peace. Now the war continued, planet by planet.

He was wet and hungry and cold; the fierce wind hurt his eyes. But the aliens were there, ready to infiltrate and all the positions were vital. He stayed alert,his gun ready. And then he saw one of them creeping towards him. He aimed his gun and opened fire. The alien made that strange horrible cry they all make, and then a deathly silence. It was dead. The sight of the dead body made him shudder. They were horrible disgusting creatures, with only two arms, two legs, two eyes, and awful white skin and without scales.

TRADUÇÃO

O SENTINELA (1954)

POR FREDRIC BROWN

Ele estava molhado, enlameado, com fome, frio e há cinquenta mil anos-luz de casa. Um estranho sol azul estranho dava luz a seu redor, e a gravidade era duas vezes o que ele estava acostumado, fazendo com que cada movimento fosse difícil. Mas em dezenas de milhares de anos essa parte da guerra não mudou. Os aviadores estavam ótimos com suas espaçonaves e armas extravagantes. Porém, no fim do dia ainda era o soldado de infantaria, que tinha que tomar o chão e segurar a linha, um passo após o outro Assim como este maldito planeta, uma estrela que ele nunca ouviu falar até ter aterrissado lá. E agora era um solo sagrado porque os alienígenas também estavam lá. Os alienígenas, a única outra raça inteligente na Galáxia, monstros cruéis, horríveis e repulsivos.

Contato havia sido feito com eles perto do centro da galáxia, após a lenta, e difícil colonização de uma dúzia de milhares de planetas, e tinha sido guerra à vista eles atiravam sem sequer tentar negociar, ou fazer a paz. E agora, planeta por planeta estava sendo disputado.

Ele estava molhado,enlameado,com fome,frio, e o dia estava cru com um intenso vento que machucava seus olhos. Mas os alienígenas estavam tentando se infiltrar, e cada ponto de vigília era vital. Ele ficou alerta, e arma aposta. Cinqüenta mil anos-luz de casa, lutando em um mundo estranho e se perguntando se viveria para voltar para casa. E então viu um deles rastejando em sua direção. Ele mirou a arma e disparou. O alienígena fez aquele som estranho e horrível que todos eles fazem ao morrer e ficou imóvel. Ele estremeceu com o som e a visão do alienígena ali deitado. É normal ser capaz de se acostumar com eles depois de um tempo, mas ele nunca foi capaz de fazê-lo. Tão repulsivas criaturas eles eram, com apenas dois braços e duas pernas, peles brancas medonhas e sem escamas.

ORIGINAL

A Poison Tree

BY WILLIAM BLAKE

I was angry with my friend;

I told my wrath, my wrath did end.

I was angry with my foe:

I told it not, my wrath did grow.

And I waterd it in fears,

Night & morning with my tears:

And I sunned it with smiles,

And with soft deceitful wiles.

And it grew both day and night.

Till it bore an apple bright.

And my foe beheld it shine,

And he knew that it was mine.

And into my garden stole,

When the night had veild the pole;

In the morning glad I see;

My foe outstretched beneath the tree.

TRADUÇÃO

Uma árvore venenosa

POR WILLIAM BLAKE

Eu estava bravo com meu amigo

Confessei minha fúria, ela cessou

Eu estava bravo com meu inimigo

Não confessei, minha fúria havia crescido

A reguei em pavor,

dia e noite com meu plangor:

a banhei não com sol, mas com sorrisos,

e tramoias ardilosas.

Ela cresceu tanto dia quanto noite

até que uma maçã, de repente elevou-se

meu inimigo a viu resplandecer

e sabia que minha tinha de ser

Meu jardim então; ele adentrou

Assim que a noite se manifestou

Na manhã, feliz constato

Debaixo da árvore meu inimigo acabado e inanimado.

since feeling is first

BY E. E. CUMMINGS

since feeling is first

who pays any attention

to the syntax of things

will never wholly kiss you;

wholly to be a fool

while Spring is in the world

my blood approves,

and kisses are a better fate

than wisdom

lady i swear by all flowers. Don’t cry

– the best gesture of my brain is less than

your eyelids’ flutter which says

we are for each other; then

laugh, leaning back in my arms

for life’s not a paragraph

And death i think is no parenthesis

Já que o sentimento vêm antes de tudo

POR E.E. CUMMINGS

Já que o sentimento vêm antes de tudo

aquele que presta atenção na sintaxe de tudo

nunca irá te amar por completo

Só nos resta sermos um tolo por completo

enquanto houver Outono no mundo

meu sangue aceita e concorda,

e beijos são um destino muito melhor

que o conhecimento

e isso eu juro em nome de todas as flores. Não chore,

mesmo o melhor gesto que consigo imaginar, teria menos significado

que o fechar de tuas pálpebras, o que me diz que somos feitos um para o outro

então ria, se apoiando em meus braços, pois a vida não é um parágrafo,

E a morte, ao meu ver, não é um parênteses.

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